Milêniun
Tenho tentado entender a psicanálise e o milênio Inicialmente pensava a
psicanálise como um deus ex máquina capaz de resolver todos os dramas da
existência humana Bem,se pensarmos nos tempos primevos do cristianismo quando
sociedades orgiásticas(portanto bem resolvidas sexualmente)jogavam seres
humanos aos leões em circos e espetacularizavam a tragédia me pergunto:ser bem
resolvido sexualmente garante a este processo civilizatório
sobrevivência....este nosso...Digamos que podemos observar uma espécie de
coliseu moralO que é ser bem resolvido nos termos do teorema freudiano!
Segundo Freud o que se compreende como maturidade
sexual é a sexualidade genital Toda a sexualidade que não chega a este ponto é
vista como fuga ,ou,no caso ,por exemplo,da homosexualidade feminina,cuja forma
de prazer genital é diferenciada,pode ser encarada como desvio Então,assistimos
a uma espécie de coliseu moral que,em termos de extrema direita massacra física
e moralmente as diferenças e,no caso de uma esquerda dita consciente,fz a mesma coisa de forma
veladaAlguns homosexuais sofrem violências acerbas em países
socialistasSimplificadamente,o dogma ancestral da virgindade garante a escolha
da donzela que vai unir territorialidades e poder econômicoDesde às sociedades
tribais com suas lutas por territorialidades e poder material,passando pelas
hierarquias estamentais,territoriais e endinheiradas dos nobres até ao
contemporâneo mundo capitalista que,pode até abrir mão deste dogma mas não abre
mão dos seus acordos de poderEntão,como nas prístinas eras do cristianismo dos
primeiros tempos,ser bem resolvido,pode significar ser bem resolvido em termos
de prazer,territorialidades e poderio econômicoNeste contexto é provavel que os
despossuídos de tais poderes sejam jogados na arena dos mal resolvidos por
ignorância...Na arena dos leões estão as formas de sexualidade alternativa,a
carícia,na qual serão jogados os ...desviados...os revolucionários....os
contrarevolucionários também...enfim,todos os que não forem inscritos nos ditames
do poder hegemônicoComo pensar o amor,o prazer em si... Mas o prazer em si não
vive descontextualisado As condições reais de existência de um operário tornam
a sua relação com o prazer diferente de quem tenha melhores condições de tempo
e confortoSe pensarmos como Marcuse que a noção de sublimação postulada por
Freud está a serviço da mais valia é
possível compreender esta espécie de coliseu ideológico que exila das
possibilidades de prazer e de amor
Os pobres,o...desviados de toda ordem...e...se pensarmos
nas nossas juvenis pretensões revolucionárias que o prazer é o justo prêmio dos
vencedores por sua sensata compreensão é provável que estejamos reproduzindo um
velho teorema...quem domina,quem é dominadoA pergunta que me faço é:qual
humanidade advirá disto... Quando me lembro de minha mãe,das nossas longas
horas de silêncio,penso nas velhas questões de ordem que associavam o silêncio
à censura mas,nestes momentos,fiz a minha melhor poesiaEla me parece até hoje
uma eterna adolescente ,belíssima,meio criança
e falou de amor a vida toda Era meio gueixa e tinha a dor inocente das adolescentes diante da
deslealdade masculinaTalvez mais cultural do que real O que me ocorre agora é o
texto Aula,de Roland Barthes Segundo Barthes fascismo é obrigar a falar e não impedir de falarA ilusão de que o
ser bem resolvido com a sua libido é não violento pode ser uma ilusão porque
talvez possamos registrar sociedades orgiásticas profundamente violentasContemporaneamente,a
ingenuidade de acreditar que libido bem resolvida diminui a dimensão perversa
da relação com o prazer no mundo contemporâneo não exclui a realidade da
convivência do orgiástico com o hediondo
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