segunda-feira, 25 de março de 2013

A Lírica em Delasnieve Daspet

A Lírica em Delasnieve Daspet Apesar das noções de lírica estarem frequentemente ligadas à musicalidade da poesia,valho-me,neste estudo de algumas características estruturais da lírica,tais como,a noção de Eu Lírico,a dicção ancorada na linguagem popular e,de um poder encantatório muito mais resultante de uma escrita voltada para os problemas vitais da humanidade do que por características formais Retomo aqui Delasnieve Daspet,lider de Poetasdelmundo no texto: Mãos Humanas Uma mão.Uma mão com cinco dedos Foi assim que o Criador fez... Cada dedo independentemente,unidos e separados..... Se juntássemos os dedos-a força aumentaria, Teríamos mais poder,mais união Deixemos que a terra se torne esta mão forte e unida assim venceremos as lutas diárias a miséria de milhões de africanos de esquálida figura e doce olhar! Mortes pelo Oriente Médio.... Chacina...não é preciso ir tão longe Mandamos soldados para o Haiti Mas o Haiti é aqui,como diz a canção Cidadãos de nações diferentes, O mundo nos foi dado de presente... Foi colocada à nossa disposição mares ,oceanos Montanhas,animais,vegetais ,terras Água,que já falta,ainda sangra do Amazonas, Como sangraram as outroras verdes e espessas, hoje semimortas jazem-verde oliva matas.... Matas...Mata...Mata...Matas!! O homem que mata é o homem que faz Criou e exterminou...trouxe dores que passaram Posses que acabam,glórias que desaparecem vencedores e vencidos povos sucumbiram às mãos,situações mudaram E quando já não houver o perfume, As mãos cheias de bálsamo trarão o alívio A esta comunidade terrestre com destino comum! Crianças mortas esparramadas nos vales, Crianças mortas nas cidades,nos morros, o rico e o pobre A guerra urbana não é só no Brasil! Mãos que fazem guerras todos os dias, e que corrompem e são corrompidas Todas as horas....é mão doce,vil e venal! Mas tudo é possível ao se, juntar das mãos Mãos humanas,juntas agradecem, juntas sãos fortes,podem erradicar a guerra Acabar com a fome,fazer a semeadura da Paz! Plantará a Paz entre os homens,mostrar a saída ensinar a Verdade, E acabará o tempo da incerteza... E a Paz florescerá! Espalharce-a pela terra,criará a harmonia... E todos os povos do Mundo se sentarão a mesma mesa Cada dedo um Continente,um Rio,uma Floresta, Cada dedo uma Montanha,um Animal,um Vegetal Cada dedo é o Vento,que sibila na passagem, É um homem,uma mulher,indissolúveis....Uma família humana! E a mão aberta,a mão humana, pelos seus sulcos,sangrará... E construirá,...Mãos humanas,certeza... Reconstruindo a PAZ(Daspet,pág:67,2008) No momento em que o poema evidencia as contradições de política internacional que resultam na fome,na exclusão e na indústria da guerra,remeto-me aqui a Homi K.Bhabha em: Não passará a linguagem da teoria de mais um estratagema da elite ocidental culturalmente privilegiada para produzir um discurso do Outro que reforça sua própria equação de conhecimento-poder!!!(Bhabha,pág:45,1998) Se o discurso hegemônico,produz conhecimento para si,no sentido Gramisciano mesmo de Os Intelectuais e a Organização da Cultura,um poema que evidencia a face visível das políticas econômicas,as relações interculturais e o faz numa linguagem Drumondianamente coloquial,talvez tenha a estrutura de um texto pacifista fundadorDespojado de qualquer artifício,seja dos recursos formais do estruturalismo e do formalismo na construção da linguagem poética,ou dos artifícios do proselitismo político ou religioso,remeto-me também a Benjamim em: Retirar o objeto do seu invólucro,destruir sua aura,é a característica de uma forma de percepção cuja capacidade de captar "o semelhante no mundo" é tão aguda,que graças à reprodução ela consegue captá-lo até no fenômeno único"(Benjamim,pág:171,1996) Se a auratização da linguagem,seja através dos recursos do experimentalismo do século vinte,seja através a pompa e circunstância do discurso oficial,camufla conflitos a depuração,a simplificação consciente pode levar ao oposto,ao máximo da eficiência na comunucaçãoO Eu Lírico aparece no poema reproduzido neste lar que reconduz a poetiza às próprias mãos e a leva a captar "o semelhante no mundo" através da mão como metáfora de solidariedade e de PazCom uma eficiência muito parecida com a do texto jornalístico, da linguagem da propaganda e do texto midiáticoE a complexidade da Lírica como linguagem irreprodutívelUm dedo que é Vento,Continente,Rio,Floresta,subverte os parâmetros da anatomia convencional expandindo metaforicamente sentidos num exercício de linguagem político,estético e ético Se o discurso hegemônico pressupõe a perpetuação de sua própria equação de conhecimento-poder,como pensar uma tradição que não seja esta perpetuação!!!!Se,com uma dicção lírica,alguém,alguém consegue explicitar as trágicas contradições hodiernas,talvez una em uma nova configuração espaço temporal,a tradição em si e a modernidade Segundo PAZ Se a tradição significa continuidade do passado no presente,como se pode falar de uma tradição sem passado e que consiste na exaltação daquilo que o nega:a pura atualdade!!!(PAZ,pág:17,1984) Se a tradição na linguagem pode significar a perpetuação deste discurso hegemônico que legitima seus privilégios,um entre-lugar,que não reproduz o experimentalismo do século vinte,espelha a face da coloquialidade cotidiana de todos os tempos e diz do mundo o que o discurso hegemônico não diz de si,pode sintetisar dialeticamente este conflito que,segundo PAZ,transforma ruptura em tradição e presentificar o que já foi e a contemporaneidadeSe Píndaro foi poeta da amargura,se a dialética do prazer,com a ascenção da psicanálise não dirrimiu conflitos,uma poética que une,consciência de amargura e esperança,pode ser fundadora de uma práxis de palavra erguida e de uma dicção ativa Segundo Mourallis:.......Enquanto signo,a cultura literária permite distinguir aqueles que pertencem às classes dominantes e aqueles que dela são excluidos"(Mourallis,pág:34,1982)Se há um Criador imanente às ações do homem ,há quem leia e interprete estas ações no entre lugar que dá a cada um a condição de sujeito da própria história e intrumento inocente da mesmaSe num modo de produção em que se privilegia custos e preços ,a palavra erguida neste poema pressupõe determinado nível de consciência que se erige apesar desta realidade,a escrita apontaLembrando Lennon..(Imagine all the people,living all today)imaginemos todo o povo ,construindo junto ,todos os dias A metáfora das mãos unindo territorialidades,diferenças culturais,diferenças econômicas ,num sentido global, desconstruindo a noção de que o processo de globalização transformou as comunicações interculturais num balcão de negóciosÉ também uma metáfora plástica que pode muito bem sedimentar o imaginário coletivo

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