A Lírica de Delasnieve Daspet

Pensando na possibilidade de configurar um conceito de lírica pós moderna ao sabor das mídias contemporâneas,detenho-me na poesia de Delasnieve,líder brasileira de Poetasdelmundo,poesia em trânsito na modernidade global num momento de desconstrução das lógicas discursivas hegemônicas e de babelização das estabilidades conceituais dos discursos canônicos.
Se existe algo,em termos conceituais,que nos garante a possibilidade de definir algo como fenômeno de linguagem inscrito na compreensão de uma dicção lírica,o que seria esta dicção no bojo dos falares contemporâneos,da linguagem de massas ,da secreta fabulação dos teóricos da academia é o que me cabe perguntar neste trabalhoRemeto-me a um verso de Safo,a grande voz feminina da lírica grega,sobre solidão e lua e aporto no seguinte verso...¨somente a Lua,indiferente,continuou iluminando a cidadeEscura pela tua ausência(Daspet,20,2003)
Safo,num momento de profunda solidão expressa a sua condição humana de criatura sem defesa diante do abandono(as ninfas se foram,o dia também)eterno abandono de toda criatura diante da realidade única:sou o único ser com o qual realmente estouNeste momento a ausência Delasnieviana se aproxima
da ausência do poema imortal de Safo,aquela que nos remete a nós mesmos.A poética do desencanto que nos descentra da palavra de aprovação,seja da academia ou mesmo daquele discurso hegemônico que legitima,ou quem sabe,da benção do pai,fundamento,saber por excelência,ratificado pelo aristotélico verbo de identidade,e estabeleço a crise,o não lugar,a possibilidade da utopiaOu da ausência total delaO Não LugarDicção migrante entre os saberes do mundo e a palavraA dicção aparentemente simples,quase midiática(música sertaneja,hip hop)entremostra a inquietante decisão da palavra que afirmativa que diz do que sabe e a instigante fragilidade do non senseDeixar de existir é impossível para o cantor sertanejo,uma vez que este não lugar exila o sujeito da identificação afetivaSe o corte epistemológico que cinde os saberes do mundo com a emoção do poeta realiza esta desidentificação com o status hegemônico,tanto a hegemonia do discurso oficial,quanto a hegemonia do discurso da margem,na sua pluralidade,estamos diante da singularidade da linguagem poética,terra estranha,mundo insólito de selvagens,redutíveis apenas à beleza,por ela mesma,e à estranha humanidade da razura,da perda,de todos os perdidos no mundo e enclausurados
na única realidade mesma do homem,o intangível da comunicabilidade através da palavra
Novamente Lua e Desencanto

Encostada na janela senti a serenidade da noite
A Lua começava a surgir num suave prelúdio da
bela Luz refletida na areia(Daspet,23,2003)
Retomando a sábia ironia de Ruth Silviano Brandão sobre uma certa idéia de logus,teia iluminadora da razão,invenção de homens,reivindico aqui o direito à sombra,à ambiguidade do inconsciente ,à uma certa clandestinidade
que esta poesia evocaA lua refletida na areia é uma entreluz ,não uma luz total ou a completa ausência delaArs Poética
Em Um Ser Partido,vejamos:
O que pulsa em mim
Vê-se no espelho partido
Irrevogavelmente viva
Povoada de ausências...
O sangue segue seu caminho
E,torna-me uma mera sátira!
Uma sátira de involuntários movimentos(Daspet,90,2000)
Flor de Logus estilhaçando os recursos da linguagem pré socráticaO espelho partido ,a recusa da identificação que legitima a autoridade,a presença,e que,no feminino,estabelece o caldo de rebeldia que reconduz dolorosamente à vidaDesidentificada e sóSem o shtablismentEntão,algo da ordem do indizível se instaura porque,aquele que deixa de existir,desiste de qualquer legitimação,o que é impossível para qualquer arte inscrita no escopo da ideologia,dos discursoss hegemônicos...tomar café,terminar o ensaio amanhã,...helenice maria