quinta-feira, 21 de março de 2013

a palavra nua

A PALAVRA NUA Helenice Maria Reis Rocha ERRÂNCIA Campos de metal frio habitam o mar que mora em minha íris Queria o mundo, tenho a sífilis fiel equação do amor vadiado Nestes campos ancoro minha ira fina fatia de cortante espera monstro de esperança vadio pelos desvãos da palavra pura errância dos que não foram, nem voltaram do imaginário. A EQUAÇÃO DO VERBO Versam as fagulhas da fala na espera das exatidões Tremulam as oscilações do verbo na trama do que se diz no tecido do que se cala Espero em vão uma sentença de palavra não vem Fala, palavra e verbo são bandeiras ao vento à espera dos sentidos. A EQUAÇÃO DA PALAVRA Fala palavra! Sai desse limbo proscrito de não existência Aceita seu destino, fala! Antes de tudo era o verbo reverso do silêncio tatuando a mudez das horas Vejo a face avara das falas na procura das estradas do verbo na certeza dos caminhos retos. MAR DE VERBO Esculpindo os nãos em vazios de areias mudas vejo o solitário percurso dos silêncios, dos caminhos de través, das lembranças. Desenhando vãos em mar de verbo traço o destino da palavra crio os rumores da procela. O DIA Hoje é o dia e as suas horas incertas Vejo o amado Nas trincheiras das carícias desperto O tempo das delícias tatuou minhas mazelas lambeu minha pele devassou minhas esperas. AS HORAS Com lábios de giz mordo as encarpas do tempo Meu destino desenhado com lápis de mares montanhosos, cheios de misteriosos seres de anis Meu caminho é um ponto no imaginário tatuado de margens cicatrizado de horas. OS SENTIDOS O fio da procela é o continente do desejo mar de ensejos que a todos devassa pétalas de vento fazem florir espelhos Acariciando a nudez das horas Vejo seus dedos nas minhas esperas fazendo florir sentidos despertos. A VOZ Linhas mansas riscam o papel vazio de palavras Entre o grito e a fala passa um rio, tensão e fria fabulação de verbo Espero As linhas são rios que serpenteiam as falas ruas da escrita voz calada. A TARDE Um sol liso chove sobre os paralelepípedos desce os desvãos do passeio escorre pela rua crua geometria orgânica iluminando anseios secretos Labirintos de sentidos sonhos Sol, sal, sul América das esperas O sol te contempla. LEMBRANÇAS Espero a manhã anunciada No tempo a consagração das passagens No vento a consumação da natureza Vejo no sol a poeira da manhã esperada desataviando lembranças. SEDE Uma sede sem cor desatavia meus brios e escorre em fios sobre a lentidão da tarde Sede que busca saciar um acordo profundo entre os homens Mar de verbo preanuncia a fabulação de velhos negócios A humanidade abisma a gentileza solapada no olhar agudo de uma fome sem nome Homens e crianças sucumbem. REINVENÇÃO Não sei de velhas falas nem da álgebra dos começos Das origens só tenho o apreço de nunca as ter esquecido Sonho o grito solerte de quem clama dos homens a justiça e como um barco à deriva inauguro um rito — jamais repetir falas e sempre reinventar gritos. VISÃO Vejo o tempo como quem navega em mar de vento mudo Vejo sempre a cor clara da Lua caindo em pingos sobre a rua nua Vejo o dia como equação crua de quem sempre espera a mensagem que tarda Vejo a noite como geometria do açoite que sempre manda avisos tardios. VELHOS AMIGOS Mal anunciado dia antes tão esperado alvissarando paz e avisando calma com penetração de acordos Hoje, tropeço nas minhas palavras meus pares me abandonaram e seguiram caminhos turvos Das antigas falas só a lembrança Velhos amigos trucidam o mundo. DEDOS DE RIOS Dedos de rios voando rasteiro sobre a Terra serpenteando o chão batizam os desvãos de Minas Rios são linhas de água batizando a sede Anunciando nomes Dedos de rios são bênçãos bendizendo o mundo. LÍRIOS Das fendas do seu não florescem lírios para florir minhas esperas Esperei o namorado na janela o afago amigo o pé da letra Hoje, recolho do seu não o meu ofertório de lírios florindo solertes nas minhas mãos. AS RUAS DO TEMPO Ruas são braços nus sobre a Terra riscando o espaço como sentenças nuas Sobre o destino das ruas podem os engenheiros do tempo construindo céleres os negócios imobiliários Matam as ruas e o tempo inventando novos desalentos em ócios industriais. LOUCOS As falas saltam como árvores descabeladas nos lábios dos loucos Tão belas as falas dos loucos Toda a ferocidade do erro triturando a fealdade da lógica A quem pertence a razão? Aos loucos Aos que vêm o mundo por detrás Aos que sonham detrás dos porões. O VENTRE DA CIDADE A cidade tem um ventre de fogo ardendo nas oscilações do pregão queimando nas duras mãos dos homens de negócio triturando vísceras em máquinas incandescentes Vejo os olhos líquidos das crianças se desmanchando em sangue e o ventre da cidade devorando braços. O OVO Banal como um ovo de papel os olhos agudos do mendigo batizam mar de indiferença e todo o mal que o mundo encerra conspira nessa aparente banalidade. Vejo a cidade, densa Lamento a fome, a doença Ergo do fundo das entranhas a minha ira E proclamo: Aos céus, o catarro do mundo. BALANÇO O suor da noite escorre nestas palavras varadas de majestade e mansidão É que muito me orgulho dos dias passados Fui leal aos amigos Cortejei amores antigos Desconheci ingratidões Abracei desconhecidos Beijei os mais declarados avisos Meu coração, um oceano de alvíssaras. AS BELAS Um oceano de cismas me invade Entre rimas indecisas e o turvo rumo dos caminhos meu coração oscila Lá embaixo, a cidade tumba-vivenda de homens-fera na feracidade dos dias Soldados ferem crianças nas valas e a cidade sangra escoa ao rumor das balas nos recantos sombrios das favelas Belas bailam nos clubes da cidade. SAUDADE A tua ausência é uma palavra sem asas esculpe vãos no meu siso é como aviso de fim caminha nos meus flancos como chamado sem resposta esculpindo nãos na minha carne confundindo minhas apostas A tua ausência é uma falta mansa inaugurando um desejo proclamando sentenças. AS PORTAS Se a porta é estreita meu ventre não passa Prefiro as portas largas e generosas das igrejas e a companhia dos anjos os anos do tempo que virá Entrarão nestas portas os mendigos e as putas, sem pedir licença se abancando marcando presença — Qui tá Benedito, sinhô! O TEMPO Os anéis do tempo perpassam minha memória Ouço gritos nos porões Vejo sangue nas estradas Hoje, trago no peito uma certeza clara desses gritos nasceram cantos desse sangue jorrarão flores porque foram meus companheiros que deixaram seus pedaços pelos caminhos para eu colher essas flores que sangraram. AQUELA RUA Aquela rua era como um pássaro risonho serpenteando as nesgas do tempo na memória Tinha vendedores ambulantes lojas de tecidos crianças Aquela rua era a alegria nua bailando mansa sob o meu olhar Aquela rua continua andando na minha secreta fabulação dos dias que virão. A DANÇA DO TEMPO Os dedos do tempo escorrem lisos sobre as horas nuas chamando os que se atrasam nos desvãos do percurso acariciando como presença crua os que se perdem nas armadilhas do verbo. O tempo, sem palavras, apenas marca o compasso desenhando passos em palavras mudas TUDO O QUE VIVE Carneiros de voz pulam sobre as ruas ondeando a calma nua bailando sob o sol da tarde São crianças são mulheres são homens lembrando que tudo vive e fala. NUDEZ Entrego minha nudez preclara aos estandartes da devoração anunciando a emoção do verbo nos rios de palavras mansas que correm nos desvãos das falas Canto a anunciação tecendo valas em sentidos claros entoando sons em alaridos mudos. Entrego minha nudez aos fortes e mansos. SIM Declaro ao fim do dia o anúncio dos começos o avesso da procela o início da consumação modulando o tom da fala e contando o ofício das histórias naquilo que nunca foi contado Alerta, espero a falência de todos os nãos. AS PALAVRAS O ruído das palavras tatua os sentidos e se faz árvore florescendo as denominações A cor do verbo dança nas raízes das falas declarando guerra anunciando paz Os homens rezam discursam cantam nos jograis os rituais falados e quando sobe um grito na garganta, se calam. AS ESTAÇÕES Minha humanidade é um riso seco atravessando as horas devassando o tempo desnudando a calma superfície das coisas Pergunto ao já sabido o frio exercício das denominações e sigo, cansada o ritmo das estações. ESPERAS Uma passarela de amavios baila entre mim e o sonho Estendendo um lençol de risos nos rios do tempo Antes, bailava sem aviso entre feridas e riscos vendo carícias na dor Hoje, fabulo os artesãos do amor entre os homens construo esperas e descanso nelas. A ESPERANÇA Um mercador da palavra seduz multidões encantando os homens adormecendo a cidade e vende a voz a qualquer preço comerciando sentidos vendendo esperança nos palcos, nas valas nas praças, nas salas O mercador da voz comove vendendo esperança a qualquer preço. OS NAVEGANTES Vejo a tribuna dos navegantes viajando solenemente em mar de tempo Julgando causas perdidas mordendo o vento bailando rios de avisos fabulando alentos. A SENTENÇA DA TARDE Tiro do armário as velhas alpercatas fabulo chamados converso com os vizinhos A rua desfila uma tarde intacta O sol parado pelo grito dos meninos Ninguém me tira esse poder que a tarde me dá Nem as minhas ânsias adiadas Nem doença de tia. O PODER DAS RUAS As ruas são estandarte do dia hora cheias, hora frias serpenteando braços e pernas em mar de gente escondem risos, escondem delírios em vitrines nuas em clamor de vozes As ruas são vida e anti-vida entre homens de gravata e crianças cruas. BATALHÃO DE CHOQUE As ruas suam olores de mar de gente sangram horrores de crianças nuas no buliço da tarde são risos, são gritos é o tropel difuso de botas policiais Um menininho roubou uma velhinha cruel equação dos começos e dos fins Um batalhão de choque cerca a avenida. A FALA A fala é como uma chuva que cai em tempo e hora datadas trazendo fabulações várias fazendo vala em silêncio de verbo A fala flutua nas salas como rio, hora manso, hora bravo trazendo histórias declarando nadas. AS VALAS Proclamo às paredes nuas o meu ofício Esse de buscar as palavras em vãos de nada de inventar falas e torná-las claras De explicitar a fina tensão do verbo levantando um vôo de águia sobre a voz das valas. OS ESPELHOS A fiel equação do desejo inventaria falas inaugura esperas proclama a solerte nudez das horas quisera ser a tensão de todos os ensejos o sonho proclamado em praça pública a exatidão dos espelhos. DIA NU A palavra é um carro vazio navegando mansa em avenidas de sentidos flutuando lassa em rios de voz proclamando a nudez do verbo declarando avisos. A palavra corre como um dia nu pelos desvãos das horas subterrânea equação dos desencontros elogio solene dos muito sós. MEU PAI Aquele dia era como uma canoa sem asas Meu pai morto A equação do abraço Lembro-me de todos os rostos da lágrima engolida a saudade Hoje, tenho do meu pai morto a reduzida geometria das horas A nua lembrança A memória. A CALMA DAS HORAS O canto da minha mãe transborda as ruas da minha memória singular e calma voz do passado num colo manso em dia de sol. Hoje, do tempo guardo as vísceras da calma, as horas. OS MINUTOS Os minutos piscam no ventre do tempo chamando os esquecidos olhares das horas bailando sobre os humores dos momentos atravessando a barca da memória. OS LIVROS Carneiros de letras dançam nos livros repetindo velhos sentidos O carmim das horas atravessa o papel colorindo a dança do tempo Livros são memória varando a sentença dos minutos declarando presença. AS FRESTAS Toda benzedeira devia se chamar Ana como todo o sol devia entrar pelas frestas Espero os dias de festas e bendigo as procissões o carnaval, não me abalo Depois virá a quaresma. a páscoa a viração O balanço dos dias me embala. como massa de pão em fogo brando. O DESVARIO DAS PALAVRAS Penetro o humor das falas fabulando mitos conspirando as horas Nenhum amor me consola nem mesmo o maldito erro do passado Sou sábia e vivo o tumultuário desvario das palavras. O RUMO DAS HORAS Nos jornais, notícias Nos sulcos das palavras a vária evolução dos sentidos Espero a sua sentença nos desvãos do meu gemido e escrevo a branca mutação das horas. MEMÓRIA Bailo sobre o fino trapézio das linhas do verbo reverberando sentidos Vejo à sombra do meu ventre o riso ambíguo das horas e vou muda sorvendo o tempo como tecelã da memória. O SONO Entre clarins de nada solto o primeiro suspiro Entre os mandarins da palavra caminho sem rumo Entre os ritmos das falas busco a palavra Entre os desvarios do sono entrego o meu abandono. DRAMAS A Lua muda atavia a noite desatando os nós do tempo avisando anúncios de devoração Antes só a dança dos momentos me servia de aconchego Hoje, debaixo da Lua nua teço enredos desatavio dramas. O REGAÇO DAS TARDES Tarde ardendo inabalável sob mar de vento invade meu desalento ferindo meus cernes tatuando o tempo de declarados avisos batizando o riso das esperas Ancoro meu verbo no colo das tardes. O VERBO Vou por onde me desanimam os avisos destecendo o siso embaralhando as cartas Vou aonde se desalinham os risos desentranhando falas ataviando o verbo. AS FACES DAS PALAVRAS A nudez da fala me desacredita. Perfilo as valas do tempo prefiguro ritos desvestindo o verbo da sua voltagem inaugurando a calma voragem das palavras. O PASSADO DO FUTURO Vejo o futuro no antes quando as garras do tempo inauguram ritos e a saudade é o instante do fim Vejo algures nos prantos quando se chora o vivido Quando o que chama, ri. MEUS GRITOS A travessia entre as falas e as valas é a nudez do tempo face a vara dos silêncios surdos que as horas insistem em atravessar Ancorei meus gritos surdos nesse momento no meio do caminho entre desalinhando os passos do antes desenrolando a linha do depois. ANDAR Ainda as ruas desataviando meus brios Hei de andar nua nelas a desoras perseguindo o silêncio dos aflitos entorpecendo os meus gritos com o rumor das horas Ainda as ruas, cruas desanuviando os meus brios. A MANHÃ O dia da anunciação passou solenemente entre risos da guarda entre gritos de silêncio carregando a bandeira do dia declarando presença A anunciada manhã se faz em si trazendo o sol das horas. MANSIDÃO A nervura do dia penetra em mim mansamente hoje eu sou o sol amanhã, já não sei talvez a sombra O gozo das estações me deslumbra como quem pede vésperas Sou mansa e espero sempre uma festa. AMANHÃ Amanhã serei tão somente o resto dos dias de hoje a sentença o tremor dos lábios Espero poder sorrir calada o costumeiro sorriso dos sábios com lábios de calmaria com olhar de vento. AS PEDRAS Tiro das vértebras o matiz da palavra como de resto toda a consumação do verbo Vesperal batismo das incertezas batizo as falas com meu sentido das alertas ceifando o verniz proclamando asperezas tiro do verbo o granito das pedras. A BUSCA Apenas um sentido me comove o da nudez com sua avareza de ornatos Somente um gemido me desperta o das crianças com sua urgência e recato Ainda que a nudez não fosse avara e que o gemido não fosse um só busco tão somente a equação das vésperas e a urgência de todas as esperas. OFERTÓRIO Recebo esse amor tanto esperado como quem proclama alvíssaras Do grito antigo guardo a ferida alerta Da palavra mal dita guardo a expressão incerta Atravessei turvos caminhos como quem beija crianças. Hoje, tenho apenas um sorriso e o meu ofertório. JUÍZO Tirando vísceras das pedras formulo o verso reverso das minhas esperas Tirando vícios das esperas formulo o verbo capricho das valas Tirando carícias das feras bailo o meu sizo escasso juízo de bela. DÚVIDA As flores, e sua exata designação da beleza, não me comovem A sua fácil aceitação me desespera Fácil é ser bela Me comove, antes, a feia indecisão dos tímidos a estranha paixão dos feios, daqueles que não encontram um lugar nos jardins. CONFIRMAÇÃO Sulcos de voz riscam minha fala batizada de senões banhada de esperas quem dera fosse nos desvãos das palavras o país de todas as certezas Nenhuma sentença falada confirma minhas asperezas Nenhuma confirmação me abala. CRIANÇAS Vejo os olhos das avenidas nos meninos nas mulheres na vida que baila nas ruas da cidade Sinto o olor das ruas na pele e o grito das crianças nas vísceras. A SENTENÇA DAS RUAS Uma coreografia nua me atravessa a retina no som do bailado das ruas nas curvas das avenidas ouço buzinas e risos ouço passos sinto o alarido vejo crianças nuas riscando meu olhar cansado. QUEM SOU Em vias transversas ancoram minhas porfias atravessam minhas incertezas descansam minhas falas, meus risos. Sou apenas um anúncio dos começos Um sinal dos avessos Uma reveria. O QUE VALE Começou o anúncio dos fins o grito nas esquinas o desarranjo nos rins As entranhas se desconcertam a vida não vale um apreço Os homens desataviam os começos Vale o grito e o avesso. MEU CORAÇÃO Meu coração pede ausência de palavras despreza a viagem do verbo nas minhas retinas Minhas noites são calmas Sinto a ira dos desnudados e a paz, bailando branca sobre meus versos Não tenho alma. A CLAREZA DAS HORAS Nunca vi a clareza das horas ou o ritmo das falas mas as palavras batizam, claras os meus lábios vazios sempre que grito sempre que choro ou rio proferindo sentenças ou proclamando ritos. MONTANHAS O redemoinho das falas batizou o vento nas montanhas de minas Mar de palavras alimentou conspiração e murmúrios gozo e sedução pela trilha das valas Amamos o verbo as proclamações. SENTENÇAS Arranco da nudez a sentença urgente Quero a voz emudecida a palavra seca na garganta o grito arrebentando correntes ferindo séculos Quero a palavra gritando ferindo a epiderme do tempo. A SENTENÇA DA TARDE Lençóis ondulam lentamente nos varais a voz da tarde me comove audição de silêncio e de calma espero dessa voz a sentença e dos minutos a consumação das horas Os dedos da tarde me embalam Como quem sorri e Cala. A BARCA DAS HORAS A barca das horas carrega os homens na sua proclamação de limite Embarcação de falas, risos, esperanças, feita de recuos e avisos. O tempo baila sisos respingando o olor das horas. Por uma sentença de sonho recuo no tempo Vejo palavras, verbo em movimento, alguma dor e alento. OS RIOS Penso nos rios como quem desenha voltas riscando ao acaso o papel Dentes de vento mordendo as águas, moendo o tempo nos corações Penso no mar como quem sonha vésperas de chegada e fabulo dos rios e dos mares a graça Conheço tão somente a placidez das praças e a mordida do sol da tarde. LAPIDAÇÃO Recuso a minha dor porque a poesia assim exige sufoco o meu grito num verso de calma Não é da dor a matéria dos meus versos mas da lapidação exata que o verbo exalta. A TRITURAÇÃO DO VERBO Como cimento moído trituro o verbo extraindo das palavras o suco Tão fugidias as palavras escapam como água escorrendo, serpenteando caminhos de sentidos Triturando o verso que foge esculpo avisos alvissarando o amanhã do reverso as entranhas do poema fecundando as avenidas. AVISO O destino morde as vísceras dos que fogem dele aparecendo nu nas esquinas batizando as fendas da noite Não há desatino que resista à exata medida das virações nem aviso que não acaricie o rumo desvairado das pretensões. Í N D I C E ERRÂNCIA ...................................................................................................... 1 A EQUAÇÃO DO VERBO ............................................................................... 2 A EQUAÇÃO DA PALAVRA ........................................................................... 3 MAR DE VERBO ............................................................................................ 4 O DIA .............................................................................................................. 5 AS HORAS ..................................................................................................... 6 OS SENTIDOS ................................................................................................ 7 A VOZ ............................................................................................................. 8 A TARDE ........................................................................................................ 9 LEMBRANÇAS ............................................................................................... 10 SEDE .............................................................................................................. 11 REINVENÇÃO ................................................................................................ 12 VISÃO ............................................................................................................. 13 VELHOS AMIGOS .......................................................................................... 14 DEDOS DE RIOS ........................................................................................... 15 LÍRIOS ............................................................................................................ 16 AS RUAS DO TEMPO ................................................................................... 17 LOUCOS ........................................................................................................ 18 O VENTRE DA CIDADE ................................................................................ 19 O OVO ........................................................................................................... 20 BALANÇO ..................................................................................................... 21 AS BELAS ..................................................................................................... 22 SAUDADE ..................................................................................................... 23 AS PORTAS .................................................................................................. 24 O TEMPO ...................................................................................................... 25 AQUELA RUA ............................................................................................... 26 A DANÇA DO TEMPO .................................................................................. 27 TUDO O QUE VIVE ...................................................................................... 28 NUDEZ .......................................................................................................... 29 SIM ................................................................................................................ 30 AS PALAVRAS .............................................................................................. 31 AS ESTAÇÕES ............................................................................................. 32 ESPERAS ...................................................................................................... 33 A ESPERANÇA ............................................................................................. 34 OS NAVEGANTES ........................................................................................ 35 A SENTENÇA DA TARDE ............................................................................. 36 O PODER DAS RUAS ................................................................................... 37 BATALHÃO DE CHOQUE ............................................................................. 38 A FALA ........................................................................................................... 39 AS VALAS ...................................................................................................... 40 OS ESPELHOS .............................................................................................. 41 DIA NU ........................................................................................................... 42 MEU PAI ......................................................................................................... 43 A CALMA DAS HORAS ................................................................................. 44 OS MINUTOS ................................................................................................. 45 OS LIVROS .................................................................................................... 46 AS ARESTAS ................................................................................................. 47 O DESVARIO DAS PALAVRAS ..................................................................... 48 O RUMO DAS HORAS ................................................................................... 49 MEMÓRIA ....................................................................................................... 50 O SONO ......................................................................................................... 51 DRAMAS ........................................................................................................ 52 O REGAÇO DAS TARDES ............................................................................ 53 O VERBO ....................................................................................................... 54 AS FACES DAS PALAVRAS ......................................................................... 55 O PASSADO DO FUTURO ............................................................................ 56 MEUS GRITOS .............................................................................................. 57 ANDAR .......................................................................................................... 58 A MANHÃ ....................................................................................................... 59 MANSIDÃO .................................................................................................... 60 AMANHÃ ........................................................................................................ 61 AS PEDRAS ................................................................................................... 62 A BUSCA ........................................................................................................ 63 OFERTÓRIO .................................................................................................. 64 JUÍZO ............................................................................................................. 65 DÚVIDA ......................................................................................................... 66 CONFIRMAÇÃO ............................................................................................ 67 CRIANÇAS .................................................................................................... 68 A SENTENÇA DAS RUAS ............................................................................ 69 QUEM SOU ................................................................................................... 70 O QUE VALE ................................................................................................. 71 MEU CORAÇÃO ............................................................................................ 72 A CLAREZA DAS HORAS ............................................................................. 73 MONTANHAS ................................................................................................ 74 SENTENÇAS ................................................................................................. 75 A SENTENÇA DA TARDE ............................................................................. 76 A BARCA DAS HORAS ................................................................................. 77 OS RIOS ........................................................................................................ 78 LAPIDAÇÃO .................................................................................................. 79 A TRITURAÇÃO DO VERBO ........................................................................ 80 AVISO ............................................................................................................ 81

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