segunda-feira, 26 de março de 2018


















A TRAMA
DO VERBO











Helenice Maria Reis Rocha








O NOME DE DEUS



O nome de Deus
baila em meus
lábios como ladainha em
dia de procissão
minha menstruação me
consome
sinal de algum filho temporão
quisera Deus
um filho purificado nas febres
e nas incertezas
artista
médico ou dentista
um filho
vadio ou trapezista
para desestabilizar as
convicções dos sábios.










BOA NOITE

Boa noite boa
meus cuidados
que já vou rapidamente
p’raquela estrela distante
que se vê da janela
nos veremos brevemente
meus cuidados
naquela estrela luzente
pouco antes do meu coração
pifar
quando esperávamos aquela
nave, olhando o céu.













MINHA MÃE


Minha mãe
você soa suave
em silêncio
e sangrando
canta
a gota de sangue
de todo poema.
















RITUAL


Pronuncio sempre a minha origem
esquecida entre as vírgulas do
percurso

Toco nesgas de caminhos turvos
esperando o batismo das horas
em ondas curtas
O tempo cavalga as frestas dos minutos
navega a estrada das
esperas

Enquanto isso
tomo a palavra
perfilo o verbo
entre os descontentes
sacerdotes do aço.







A VIAGEM DA PALAVRA


Risca a página feito bala
a palavra
Rasga a fala feito faca
a palavra
No entanto em si não vale nada
Nada mais do que risco
Tensão entre grito e vala
perda e sorte falada
Engenharia de silêncio
Descuido da voz
Quando não cala.










ESPERANÇA


Clara, clara, clara
água, água, água
vaza, vaza, vaza
mágoa, mágoa, mágoa

Belo, belo, belo
fero, fero, fero
tempo, tempo, tempo
vento, vento, vento.









TEMPO


Escorrendo feito água
o tempo aqui veleja entre
os dedos
como navegante frio
acertando quando erra
o destino de chegada
Mas o tempo não chega
nunca
E a vida permanece parada
suspensa no trapézio
de uma idéia que não é nada.








VOZ

Dedos de voz
rasgam o compasso da fala
Pára a voragem do som
no meio das palavras
quando as tiras das
palavras defloram sentidos
tensos
Sentidos lentos escorrem pelos
vãos da fala
A frugalidade dos favores
se faz bala
a intensidade dos fragores
se faz vala
Tudo o mais é risco
Todo o verbo é nada.









NOITE

A Lua, a mãe da noite
abre as pernas brancas para
o Sol parindo a tarde
furando o grito da graúna
abrindo o silêncio da sorte
Formiguinha grita
Quem, quem, quem, quem
A rua abre o ventre para o Sol.












A FESTA DO SOL


O Sol salgou o mar
multidão de peixes saudou
virou procissão de sal e água
Boto gritou: Vem cá, vem cá
Tupinambá responde:
Não vou, não vou
O Sol caiu em pingos sobre
o mar.











NOITEANDO


A luz do céu apagou
noiteou
Curumã saiu de dentro
da escuridão.













DANÇA LELÊ


Jaboti saiu da toca
dança Lelê
Não tem água p’rá bebê
dança Lelê
A onça encantou o rio
dança Lelê
Quer comer Jaboti
dança Lelê.









MEU AMADO

Com um arco-íris atravessando
as palavras
balanço os cílios
meu amado vem
voando entre carmins de lábios
sobre o meu corpo
vem
gemendo entre cetins, entre com
passos
vem
meu amado é manso
e calado
é Derrida e cerrado
poesia e gerais
meu amado é professor e menino
profanador
profissional
menino
não sabe o que faz.








E ESSE AMOR ...


Versos de um amor muito
bailam soltos no limbo das palavras
Versos de um amor limpo
chegam mansos sobre o olor
das páginas
As águas desse amor tão simples
invadem retinas e falas
As mágoas desse amor singelo
embalam o coração das feras.











CLÁUDIO TANNUS


Areais voam em
constelações de grãos
chovendo sobre o tempo
soterrando o que foi um dia,
vida
Faço trilhas no lençol e canto
reconto pegadas
Te encontro
no futuro
beijando vísceras.










ENTÃO ...


Solarte
Manhã reluzente paz
amarelinhando o dia lindo
nascente noutro lado da rua
eu nua
flácida e crua
destoando este bom gosto
estarte.












CIDADE


Estrelas nuas chovem febris
sobre os passeios
rios de risos correm febris nas
avenidas
antigas baladas se fazem ouvir
em bairros distantes
a noite, a cidade,
os mendigos, o açoite.









VENHA


Veias de mel soltam sua
íris louca
Os seus olhos doces
me engolindo toda
contra isso nada podem os lucros,
os grandes negócios
os acordos turvos
Os seus pelos roçam minha pele
fraca
minha carne lassa
meus sentidos roucos
beijo o ar à tua espera
Tua vinda é um vôo de avião
em dia de sol.






CANTIGA DE UM GUERRILHEIRO


Amei feliz um dia
as estradas dos gozos temporãos
As Américas cortaram minha carne
espalhando os pedaços por todos os
porões.
Minhas vísceras gritam fecundando
a terra, abundando o campo
de flores que virá
Amei ao relento, nas trincheiras
nuas, escondido dos canhões.
Beijo os pássaros que caem
e os animais que lambem
o túnel aberto em meu coração.











AIUOEEÊ

Curupira saiu do mato
gritou
aiuoeeê
Roubou comida de onça
voltou p’ro mato outra vez.












MEU VENTRE


Olhos de fogo engolem o sangue
de meu ventre aberto
banhando as oscilações dos
pregões da bolsa
entre especulações e gemidos
caminho alerta
fugindo ao veneno dos negócios certos
Mundo-serpentário de homens
máquina
explícitos vampiros da
nudez da humanidade.







O OUTRO

Através de uma fenda
desvendo planetários
fabulação de mundos vários
recordando um atávico exílio
de outros nós
Vejo entre frestas
ruas e pessoas
sorvendo febris carbonos
carboidratos
entre serpentários de homens-aço
Haveremos de dar a mão
a algum ser errante
vindo de uma outra estrela
um outro que de tão outro se
faça muitos
e de tão muitos
se faça nós.







PROVA DOS NOVE

Quero o amigo distante
o que não foi e
o que não virá
Quero o cumprimento do amante
o que não tive e o que não terei
Quero dançar um instante
nos braços de um anjo sedentário
Quero o tempo de um viajante
como sentinela
da alegria que chegará.












AS FACES DO VENTO


Cães de vento mordem as faces do ar
Mãos de sonho fabulam desenhos
de giz
As faces do ar são gravadas a giz.











HOSPITAL


Pétalas de pedra choram
sobre paredes brancas
Lanças de carmim perfuram
corpos parados
O hospital
O quarto
A dor floresce meus sentidos
Sinto, sem maquinação
O Aço do carmim me faz
pra sempre
P’rá todo sempre
Tudo que sente renasce, talvez.












ANTROPOFAGIA


Eram três caravelazinhas
Santa Maria
Pinta e Nina
E a carne branca de Portugal.













OS SINOS


A voz dos sinos me constrange
não vejo graça nem tino
a não ser aqueles que balançam
gangorrados por meninos
a fala dos sinos me desatina
quando eles insistem em anunciar
os mortos ou os feriados
Santos dias de fornicação.











BREVE POEMA


Não vou fazer um poema longo
que seja breve como as más-respostas
e tenso
Nem tão pouco quero um poema belo
que seja triste como as mulheres pobres
e fero
mas há de ter a violência de crianças
nuas.
Há de ter o olor das lágrimas nas ruas.










A FESTA

anéis de voz viajam o espaço
a sala cheia
as veias da vida escorrem
a janela aberta
Um olhar de água batiza
minha displicência
A mulher do lado
Um beijo de aço comprime o
meu sorriso escasso
Meu namorado.
A festa uma seiva de
reverências.










DEVORAÇÃO


Um mar seco percorre o nordeste
escorrendo um agrilhão de agruras
vastidão de secura parada
corroendo os homens nas estradas
Um menino seco espeta para o céu
num Libelo áspero
corroendo ternos e gravatas.









LÁGRIMA


A equação da lágrima
me confunde
viajando solitária sobre o meu
rosto
Ninguém viu, ninguém vê
esta trilha em linha reta
descendo humilde
para a minha boca
salgando os meus lábios
secos.








VOLTA


Sorvo a noite como um sonho vivo
perpassando meus sentidos
penetrando lenta o cárcere do
meu corpo
Vôo e volto
o mesmo ponto antigo
as horas bailando os meus passos
abraçando os meus risos
Hei de ir como quem despede
para voltar mais leve
sem aviso.








OLOR DO TEMPO


A cada dia o seu cuidado
A cada dia uma palavra
em ritmo de sarabanda
em ritmo de Tarantela
esculpida em renda fina
como enxoval de donzela
Um dia eu fujo e deixo as palavras
p’ra trás
Com seus vícios e traições
com suas estranhas mazelas.









VIDA


Terei dias de realeza
em tempos de devoração
a geografia dos anos
ao alcance da minha mão
Serei confidente do vento
do meu fado, Tecelã
Sinto as veias do meu corpo
como quem canta um hino
Vida, vem, fica comigo
Serei cúmplice, serei sizo
Serei sua mais fiel equação.








ANTÔNIO


Quero a coragem do erro
A hora incerta
que antecede o dia
Quero a voragem do cio
o esquecimento de todos os avisos
do escasso Juízo a medula
quero também a profecia sua
amigo, amante ou confidente
que em uma tarde cristal
me sentencia.








DANÇA


O dançarino das vagas me
chama
é tarde, não vou
Entre espelhos de ondas
me perco
não sinto os dedos
da água
me calo
O dançarino das vagas proclama
é noite, não vou
entre nuvens de ondas, me
abalo
não sei
entre corcovos de água, declaro
não sou.




HOJE



Hoje não serei gorda
receberei cumprimentos
pela minha fidalguia
ganharei flores na esquina
Terei um amante
pontual
Hoje não serei antiga
Terei passos de gazela
e espasmos de perdida
Hoje não serei feia
compreenderei os mistérios
gozosos e os meus deveres de
filha
Hoje não serei fria
Darei o calor do meu corpo
Ao vendedor da esquina
E como a princesa que baila
bailarei altiva e lassa
entre olhares espantados
e a desaprovação das tias.



ANUNCIAÇÃO


Será enganosa a exaltação do dia?
Que venha a manhã solar
com uma euforia vespertina
com pássaros varando as esperas
e gente riscando avenidas
que venha a manhã, exata
com todas as anunciações
atravessando todas as
distâncias
que existem entre os
corações
Que venham todas as manhãs
com respingos de sono e risos
com pão e café na mesa
Apesar de todos os avisos
Apesar do meu passo incerto.








CHEGANÇA


O tempo chega em passos densos
como tristeza de filha
entrando na pele
Mais parece apito de trem ou
praga de velha
coisas tão comuns e vesperais
Chega tão naturalmente
que parece alguém da família
e nos leva.











CHANCE


A fina equação do verbo
conduz antigas Litanias
que o tempo das palavras seduz
Diante dos altares me curvo
última testemunha de rezares
únicos
Espero em Deus a chance da
Alegria
na vez e hora das epifanias.









HOLOCAUSTO


A prata envelhecida dos castelos
sumiu
O que resta são as vísceras dos
reis
Nas margens avulsas os sinos
dançam
o balé sem imagem de
antigos sons
A arca das imagens sacras foi
violada
Abutres andam nos quintais
onde as princesinhas cantam
dias reais.







BRUXEDO


Suam pétalas viris
nos embornais
São as flores que carrego
no meu peito murcho
desidratadas pelo sangue
das virgens
em dia de defloração
Como as bruxas me vicio em
doces aberrações
Perdida no cio
faço os meus convites, exorto as
minhas evocações
Da Terra sobe o olor que
me dá poder.








VENTO


Feito agulhas varando o ar
o vento fere várzeas
levando as águas
abrindo lamentos
sob a tarde clara
Feito fúrias levantando o tempo
o vento pede, afronta e recua
arrastando o medo
declarando luta.










ECO


Sinto o eco do vento
dentro, dentro, dentro
Sinto o aço do centro
lento, lento, lento
Solto o ar do lamento
penso, penso, penso
Bailo o gesto do canto
denso, denso, denso.











FERNANDA


Linha de voz
Lâmina ardente em tempo
de manhã
canta a melodia das esperas
Todas as velhas artesanias da
fala se reúnem em assembléia
Fernanda Montenegro
recita Fedra
e isto basta.









A EXATIDÃO DAS ESPERAS


Pão sem bruma
sobre a mesa baça
no teorema da manhã
de ontem
Mão sem lume
sobre a pele fraca
acendendo fontes
do amor que ficou
Vão sem rumo
em nesga de estrada
escondendo espasmos
inventando falas.








FALAS


Falas são rios serpenteando
estradas
como túneis sem fundo
rasgando a terra
na voz das velhas
e das ciganas
Em cada esquina uma vela
em cada vão de rocha um
despacho
O riso do pajé, a sentença
Um choro de criança
uma saudade.






SILÊNCIO

Um silêncio seco
na excelência da noite
se desvela
como sentença nua
ou grito sem voz
Algozes mudos se revezam
fechando a porta da manhã
torturando feras
que me habitam o peito aberto
Um grito bêbado corta a noite.
O ônibus passa
habitantes de uma odisséia vencida
homens e mulheres
riscam
avenidas mortas
em horas inertes
nos desvãos da cidade.








AS PALAVRAS


Um fio de nada
me mobiliza
aragem de pássaros no cio
Um brilho na vala me seduz
a dança dos abismos me arrasa
sonho amavios
recolho falas
estiletes e feridas de percurso
na minha bela viagem
de alvíssaras
na antiga voragem
das palavras.









MADRUGAGEM


Sinto o relume
da manhã e me embriago
fabulando filetes de sol e ar
mas a noite me abraça
e absorta
me entrego
pacto fatal
de murmúrio e sombra
amanhã será a espera
hoje a noite me espreita
como um tigre na janela.








SAUDADE


Tua ausência é um feixe sem lenha
filete de um fogo frio
que nunca vem
Uma distância longa nos percorre
escorrendo como seiva em
nossos umbrais
Sedentos somos de palavras mornas
aquecendo lentas os
nossos portais
esquecidos vamos buscar
retalhos de nossos passos
em algum fio de vento.








TRISTES SEREIAS


As dunas ondeiam os caminhos
mansos
nas praias
onde chegam os cansados cantos
das sereias mortas das cidades
Navegavam lixos e refugos
meias de rendas entre a
sífilis e a noite.
Sexo seguro? Acoite
Amor tranqüilo, quimera
Grandes negócios, amores turvos
no carrossel das águas
Carne e risco
da AIDS, lembrança e soluço
Antes, só a saudade.










AS PALAVRAS


O mármore das palavras
está no silêncio
no entre
nos caminhos de través
quando tudo cala
por já ter dito
por já ser nada.









POYESIS

O anel da nossa aliança virou
sal
sobrevivemos ao olhar
da medusa
nosso sangue fecundou sentenças
O Testemunho da nossa confiança
varou ânsias
Hoje, somos fraca lembrança
Olho p’ra trás e ouço a
minha mãe cantando.
síntese do nosso gemido
sentença de esfinge
Seremos muitos, amanhã
Nós, poetas
Sagração de murmúrios que
cantam
o solo árido das palavras.





TARDE

Grãos de silêncio
caem sobre o fim da tarde
arde um viver difuso sobre os
meus olhos cansados
vida vazada em prestações de
vinagre e mel
Filetes de grito
cortam o silêncio da tarde
ardem ferindo a surdez
dos passantes
São crianças que brincam
na praça
sob a ferocidade das massas
e as botas dos soldados.








POESIA


Poesia é um balanço de corpo
Um trem riscando o vento
peixe-boi que fala
riso, lamento
poesia é um momento de gozo
embarcação em movimento
uma gangorra no ar
o aconchego de dentro
arquejo de mulher amando
poesia é comida na mesa
povo dividindo o pão
coração leve, alento.









PAIXÃO INÚTIL


Um mendigo desabotoa a minha dor
Amo este estrangeiro que pede
país selvagem do meu esquecimento
de mim
andarilho indomável das
minhas mais secretas andanças
Amo este estranho, ora aqui,
ora ali, flaneur sem máscaras
das nossas esquinas
e não posso nada.










AVENIDAS


Serpentinas de luz
os faróis e os neons
riscam as avenidas
equação de noite e Lua
Velocidade e risco
vertigem e chão
Tomara o coração das avenidas
fosse calma nua
sem pressa vã
ou carne crua e ignição.








MEU PAI


Uma saudade do que não virá
enche um instante
barca de vento navegando as águas
da tarde
Um cachorro late
Todos os meus medos se esvaem
Conspirando murmúrios e lamentos
uma sentida nota musical pisa
os desvão da memória
Leve, suavemente
meu pai tosse,
a garganta de todos os artistas,
tuberculose
o tempo volta
ele toca
como os anjos cantam.













DESCANÇO


grito dentro
riso lento
cata vento
rima tempo.














SENTIDOS


Sinto o vento
e o seu longo lamento
vento, vento, vento
eco, eco, eco
Sua voz antiga soa,
soa, soa, soa
dentro, dentro, dentro.











SAUDADE

papai,
barroco
frágil e terrível
Toda a doçura num segundo
do seu berro, do seu não
eu mamo
pátria da música
em um sopro
Som, sussurro e sangue
sopro de vida
meu sofrido vislumbre.







SEREIA


Branca Luna
Barca nua
navegando o céu
em noite escura

Mansa bruma
onda, espuma
dançando leve
sobre areia crua

Sereia clara
cantando, rara
sobre o mar
Brisa breve
bailando célebre
sobre o céu.










NÓS

Uma linha em branco atravessa
a garganta do mundo
ferindo o fundo de antigas epifanias
É a memória muda de incontáveis
histórias sangrando lentas sobre
uma ausência
Somos o resto de uma trama
a sobra de um passado, caminhando
sobre nostalgias e saudades sem
remédio
Somos o resto do tempo.










VOZ

A carne da voz é o outro lado
da palavra
o avesso da memória
a deiscência das coisas nuas
objeto da vivência crua
que norteia as realidades pagãs
A floração da fala
fecunda a carne da palavra
matiz de sons vários
A humana concreção do som
a magia do dizível instala.








AMANHÃ

Anel de aço
o barulho do mundo
envolve os meus sentidos
lassos
laço de ferro a me enlouquecer
Não sei das guerras
das fomes e das falas
Sei do meu gesto dúbio
de alguma caridade pouca
do meu afago
da minha ânsia louca
de um amor avaro
a me atormentar
Sonho um mundo outro
onde as crianças vivam
e os homens bons possam
algum sonho raro.






ÁRVORES


Folhas de anil
voam sobre a Terra mansa
A paisagem toda na minha
retina arde
O que era esperável se desfigura
Um carnaval de astros dançam nos
céus
A linha do horizonte se perfilha,
dura
A agonia das espécies é um vendaval
A terra canta um brilho santo de
estrelas
Mãos duras sangram árvores
no final.








MINHA MÃE


Cavalinho azul do
meu sonho de criança
Carrega a meiga voz da
minha mãe
meu consolo de infância
Cavalgando o vento
me traz aquele alento
de canto de sereia
de tempo de quebranto.










PROGRESSO


A árvore respira folículos de serpente
gemente
estende os galhos áridos aos céus
A fábrica solta gases
A vida chora
implora uma segunda vez
As vísceras de um viver de todo
antigo se presentificam
Os pássaros de antes cantavam
Hoje cantam gases, de um tempo
de todo assinalado
tatuado de progresso.









MARIA

Sou uma Maria qualquer
barro
humus
pó de terra
Danço de chinelinha nos pés
Tenho dente de ouro
e olhos de vento
Sei da curva das estradas
da poeira de sol
do tempo.








ÁFRICA


Cavaleiros do mar
navegando águas de tempo-noite
retirando das águas o lamento
do açoite
antigos africanos voltam
dos porões dos navios
Cavaleiros do ar
navegando tempos de mar-noite
gingando volteios de sangue
e soluço
antigos africanos choram
Cavaleiros do vento
correndo, voando, nos
matos adentro
antigos quilombolas
gemem.





DESEJO

Asas de carmim
lambem minha pele rouca
varrem minha vida pouca
de um amor sempre adiado

Boca de alecrim
beija a minha pele lassa
cicia segredos lascivos
e passa

O meu desejo, pássaros sem
canto sobre os meus pelos
dança, avança, recua e se abraça
sobre o meu corpo.













SOUL


Queria ser como Betti Boop
Dançar sob um céu de desenho
animado
Cantar um blue
Sorrir de lado
numa tarde de Domingo
sem sol.











TESSITURA


O silêncio tece
as ânsias desnudas
na concha da noite
Entre a chuva e o estio
o cio e a voragem
permanece entre frestas
de sol ou frio
penetra as janelas das memórias
mudas
fruta-tear em viração
madura.










O VERBO


O matiz da pedra
modela a palavra exata
O verbo – Lua
O verbo – água
O verbo – vento
O verbo – mágoa
O verbo anímico da palavra – fala.












SENTIMENTO DO TEMPO


Batom em sorriso murcho
o tempo das esperas passou
e aquela alegria pagã bate continência
em estradas nuas
murchas de um carnaval
sem fantasia
Vou morrer, como vivi, sem nada
além dessa crônica louca
de amores vadios.










SENTIMENTO


Como cabelos em um pássaro raro
um amor tardio sempre traz amavio
Como ritmo em um passo lento
um amor temporão sempre
traz novidade
A idade do sentimento é a face azul
da espera
que do tão azul se faz quimera
como as palavras de um poema
sem cor.











O TAL

Amor de chocolate
adoçando donzelas
ele passa, cheio de graça
pelas telas da tevê.
Ele é o tal
Cristal filtrando versos e diversos
areia fina escorrendo entre
as mãos.
Ele passa, cheio de graça
e não é mais que um tempo.









RISCO


A civilização balança numa
gangorra
ora lenta, ora lassa
e quase voa pelos ares
o tempo todo
Antigas vozes ecoam reivindicando
presença em janelas baças
em murmúrios roucos
Antigas ausências ressoam
em tempos crassos
em compassos loucos.









O ÍNDIO

Pincel de estrelas
colorindo pedras
um irmão da terra
tinge o pó transverso
com tintas de guerra,
com tintas de entranhas
com tintas de paz
e de danças velhas
Pincel de estrelas
colorindo estradas
um índio nu
mistérios engendra.









O VÔO


Um vôo sem asas
rasga o ar mudo
riscando um sentimento manso
de ausência de palavras
Sob silêncio
me resguardo
quando vozes loucas temam
em vociferar o banal
Vôo sem armas
de pássaros sem voz.








A SERPENTE

Através de um vidro piscante
o olhar da serpente encanta
a rua
paralisando crianças nuas
e ninguém vê
O olhar da serpente é um
anúncio brilhante
vendendo homens em papel
crepom

Serpenteando sobre a cidade
arma o bote e a cilada
sobre quem passa e não vê

Parece um grande negócio
vendendo o país inteiro
Engole crianças nuas
seduz a quem quer que queira.





OS SENTIDOS DA ÁGUA


Línguas de água molham as bordas
do meu verbo manso
Nessa liquidez de fala descanso
sem mágoas ou remorsos absurdos
A vida escorre sem barreira
ou filtro
escoando esquiva entre armadilhas
vis
Os meus amigos sabem dessa fala
sem esquinas ou paradas
entre uma lágrima ou riso.









AS RUAS

As ruas são rios
serpenteando as cidades
As ruas são cobras
anunciando venenos
As ruas são fios
interligando sensações
as ruas são os cabelos dos mares
Quisera um sentimento do mundo
fora dele
A mundanidade toda no meu quarto
Meu coração, o coração do mundo,
As ruas, filetes de homens-ebulição.
Meu coração,
um coração no mundo.








BUSCA


Em busca de algum encanto
peregrino
as esquálidas veias do mundo
A vida em banho-maria
Um corte
cirúrgico
Trama tecida em
sal e fel
atualiza
um tempo sem nome.










OS MENINOS


Astronautas do asfalto
meninos naufragam
entre luzes de neon
atravessando mares borrascosos
de pernas e braços, bolsos e paletós
aterrizando em botinas armadas
de homens-marrons.
Navegam ares de estrelas de Hélio, zonzos, sob a fabulação
das riquezas e dos destinos, astronautas do crack e dos
homens de gravata,
reféns dos uniformes marrons.











ANJO TORTO


O rosto de um anjo torto
ninguém conserta
Nem todos os alertas
Nem todos os comandos
Nem todos os deuses nus no
mesmo pátio
O rosto de um anjo torto
Só as crianças enxergam.









PALMO DE TERRA


As cidades do ar sobre pairam
as moradias
representantes de tudo o que
já foi um dia
casarões, sobrados
casebres, velhas pedras
na tumba-concreto de
novas liturgias
A liturgia dos lucros e das
mais-valias
Mais valia o quintal barrento
de uma velha lavadeira ou
o casarão antigo da esquina
Tumbas-espigões brotam do
asfalto onde jaz o palmo
de Terra do nascituro.





PORTE DE FÉ


Deus meu, me perdoe as taras
e a virtude duvidosa
a péssima fachada
e a cara marcada
de barro e
corte, já não tenho
mais a alma de princesa
de outros dias
No entanto, amo o pai, o filho
e o espírito santo, com a
mesma confiança
rasgada, com a viceralidade das
perdidas e a elegância das
loucas.





NÃO SEI


Morna viração das ruas
paz
fim de tarde de Domingo
meus livros espalhados
sobre o chão
O momento entre um minuto
e um segundo é uma sentença
o tempo de um tiro
ou de um afago
Âmago das raízes e das coisas
cálice de aconchegos e incertezas
um passado sem rosto se presentifica
Que fui eu no teorema do que
serei?
bela ou fera, amante ou proscrita?
já não sou e não sei










AMOR


Nos dizeres do meu amado
as minhas faces transmutam
Nem ele me ama tanto assim
nem tanto eu camaleoa
Fera louca em áspero feroz mundo
de tantas faces a que mais
me entranha
é esse amor nem tanto
que tanta falta me faz
é esse amor que de um tanto
o mundo todo me traz.







PONTO DE VISTA


Vidas chovem sobre paralelepípedos
Paixões desenfreadas dançam bamboleando o
asfalto frio das avenidas
O arrasador dos corações fuma um Carlton
sob a luz dos cristais.
Tudo é banal como um sabonete barato.
Crianças semi-nuas roubam
roupas nos varais
morrem varadas por fugazes
metais
nas marquises, nos parques,
na capital, no mar, no ar
Tudo o que é sólido se
desmancha no ar
A fatalidade é vendida em
suaves prestações.










ESPERA


Acossada
em uma fenda do desejo
arquejo plumas de
felina
espero a hora
o dia, o salto do batom
o urro do prazer sonhado
ao prazer vivido
a dor do gozo pressentido
me estraçalha.










SALTO NO ESCURO


Uma loba no escuro
o meu amado assedio
com garras de veludo
marco seu corpo vadio
como fera sangrando
caminho pelas transversais
do cio
varando todas as paralelas
rasgando o meu amor arredio.












ELE

Meu amado
é um menino selvagem
e dissimulado
como os tigres em dia
de viragem
me assusta
me desanima
como os pássaros em
perda de plumagem.








SONS E FALAS


A cor da voz voa
no matiz oscilante dos
espetáculos
O político tonitroa
O cantor escoa e geme
A voz da cor
canta
no matiz oscilante dos quadros
e tão canto e tão timbre se faz
que voa
nas mão daquele artista pobre
O ser de uma penetra o de outra
uma vez que a cor é uma voz
que cala
e a voz é uma cor que soa.







O ATOR


Gentileza de tigre
arranhando as estranhas
do tempo
ofendendo fibras do espaço.
o mago das avenidas passa
travestido de palhaço
de anjo
ou simplesmente de homem
O ator
este ser p’ra sempre multiface
transmuta no asfalto
acompanhando a troupe
do teatro
Teatro das ruas
Teatro dos corações.










PAPEL

Estranho papel
resto de tudo e de todos
bolsa de objetos vários
recados p’ra empregada
endereço do bombeiro
bricolage de retalhos
restos de vida.
Cartas anônimas
bilhetes rápidos
Se eu fosse papel estaria
amassada em algum canto.











UM OUTRO TEMPO


Tatuagem de batom as
vezes dói
como forte presença em
dia distante
Antes era a grande ausência
antes do verbo, antes da origem
Hoje, depois do primeiro pecado
a gente vive
risos e taças
saudades virgens.








HORAS


A paz de um lençol voando
no varal
percorre a tarde
Arde no ar uma fogueirinha de
folhas secas
Antigos carrinhos de rolimã riscam o
passeio da rua da memória
papagaios no ar,
cerol,
Meu irmão brinca
antes era assim
O balanço das horas não tinha
nem endereço.







A TRANSIÇÃO DA VOZ


Voz muda
retumbando no silêncio
Música surda
soando no ar
Fala cega
assombrando tempo
de velhas confabulações
as asperezas de percursso
viajam riscando nossas filosofias
feito tesouras dilacerando sedas
ou bonecos varados de alfinetes
Magia negra de duvidoso resultado
balançando o cerne de
inúteis inocências.







CANSAÇO


Estou livre de amores vãos
Falsas ternuras
sentimentos inúteis ainda
me seduzem
aliás como tudo o que
não tem direção
Vou de déu em déu
pelas transversais do
destino
Tudo o que me acontece
é por acaso
sentença de uma
felicidade sem nome
cansaço das denominações.






MINHA AMADA


O tempo voa como folhas
de papel ao vento
dentro dos minutos e das
horas
não tenho pressa nem demora
nem a devoração das esperas
me paralisa
minha mãe ouve minha poesia
com a humildade das gueixas
sem queixa
sofre de dores severas na
espinha
e canta.







TEOREMA


O vinho não batiza a
noite
assim como o nome não
mostra a face do dono
A voz não anuncia a fonte
assim como a fala não
detém a bala
A espera não escondo a fera
assim como a faca não detém
o salto
A noite, espreita o açoite
assim como a manhã
anuncia o dia.






NO MAIS, PALAVRAS


palavras são árvores
ricocheteando o papel
confete multicolorido
chovendo sobre
mar de verbo
amar as palavras é despi-las dos galhos
desfolhando folha a folha
os seus desvãos
amar as palavras
é descolorir confetes
buscando passo a passo
os sentidos vãos

palavras são compassos densos
ressoando ambíguas
sobre o papel branco.







A VELHA ESPERA


Doendo como pétala falsa esse
amor insistente,
inclemente que nem carnegão
exposto
Eu queria as asperezas da raiz
a incerteza da liberdade
e amor, p’ra valer
Talvez, polindo um pouco as
velhas pratas
vejamos esse caminho poeirento
clarear as matas
dos nossos corações
cruentos.









O AÇOITE


A noite
o frio
a vala
o rio
o susto
o grito
a fala
o riso
a ponte
a fonte
a morte
a Lua.








O SERTÃO


O sertão é um balanço lento
ondulando numa tarde nua
crua equação de emergências
sentenciando decisões tardias
momento de silêncio na noite
quando a passarada dorme
O sertão é um fogo-fátuo
anunciando o gargalhar dos
mortos
vela acesa na estrada
emboscada
a vida por um fio.








CONHEÇO


Mãos de pérolas
acaricio meu corpo
Loba sem garras
jogada na noite
sei de todos os nãos
de toda ausência de carícias
Conheço a rejeição gentil
e a grotesca
Conheço meu corpo
como quem baila em esferas
Sou toda mãos
Sou toda esperas.









PLUMAS


As plumas da voz
são para as princesas
eu, prefiro cristais e pedras
modulando o meu berro
solerte
Na hora da viração desperto,
espreito felina, espero
o doce desfile dos tigres
que lamberão minha ferida
aberta.











BRILHO


Minha mãe,
minha poesia
minha solidão
minha vida vadia
valeu bem um porre,
ou alguma alegoria
ou talvez um êxtase do nada
a saudade de alguma ausência
venham trazer aquela voz distante
Teorema de um antes
brilhando num dia de sol.









TAMBATAJÁ


Violo o papel
com letra e tinta
carneiros de letras
cantam uma voz antiga
enfeitando uma palavra
ancestral
Os índios choram em fileiras
nas matas o amor do Tambatajá que fugiu
A noite dança na taba
o andar da índia ferida na lida,
Ondas de voz
invadem o bailado da noite cantando o amor do Tambatajá que fugiu



Í N D I C E


O NOME DE DEUS ..................................................................................... 1
BOA NOITE ................................................................................................. 2
MINHA MÃE ................................................................................................. 3
RITUAL ......................................................................................................... 4
A VIAGEM DA PALAVRA ............................................................................ 5
ESPERANÇA ............................................................................................... 6
TEMPO ........................................................................................................ 7
VOZ ............................................................................................................. 8
NOITE ........................................................................................................ 9
A FESTA DO SOL ..................................................................................... 10
NOITEANDO ............................................................................................. 11
DANÇA LELÊ ............................................................................................. 12
MEU AMADO ............................................................................................. 13
E ESSE AMOR ... ..................................................................................... 14
CLÁUDIO TANNUS ................................................................................... 15
ENTÃO ... .................................................................................................. 16
CIDADE ...................................................................................................... 17
VENHA ....................................................................................................... 18
CANTIGA DE UM GUERRILHEIRO .......................................................... 19
AIUOEEÊ ................................................................................................... 20
MEU VENTRE ........................................................................................... 21
O OUTRO .................................................................................................. 22
PROVA DOS NOVE .................................................................................. 23
AS FACES DO VENTO ............................................................................. 24
HOSPITAL ................................................................................................. 25
ANTROPOFAGIA ..................................................................................... 26
OS SINOS ................................................................................................. 27
BREVE POEMA ....................................................................................... 28
A FESTA .................................................................................................... 29
DEVORAÇÃO ............................................................................................ 30
LÁGRIMA ................................................................................................... 31
VOLTA ........................................................................................................ 32


OLOR DO TEMPO .................................................................................. 33
VIDA ........................................................................................................... 34
ANTÔNIO .................................................................................................. 35
DANÇA ...................................................................................................... 36
HOJE .......................................................................................................... 37
ANUNCIAÇÃO ............................................................................................ 38
CHEGANÇA ................................................................................................ 39
CHANCE ..................................................................................................... 40
HOLOCAUSTO ........................................................................................... 41
BRUXEDO .................................................................................................. 42
VENTO ....................................................................................................... 43
ECO ............................................................................................................ 44
FERNANDA ................................................................................................ 45
A EXATIDÃO DAS ESPERAS ................................................................... 46
FALAS ........................................................................................................ 47
SILÊNCIO ................................................................................................... 48
AS PALAVRAS ........................................................................................... 49
MADRUGAGEM ......................................................................................... 50
SAUDADE .................................................................................................. 51
TRISTES SEREIAS .................................................................................... 52
AS PALAVRAS ........................................................................................... 53
POYESIS .................................................................................................... 54
TARDE ....................................................................................................... 55
POESIA ....................................................................................................... 56
PAIXÃO INÚTIL ........................................................................................... 57
AVENIDAS .................................................................................................. 58
MEU PAI ...................................................................................................... 59
DESCANÇO ................................................................................................ 60
SENTIDOS .................................................................................................. 61
SAUDADE ................................................................................................... 62
SEREIA ....................................................................................................... 63
NÓS ............................................................................................................. 64
VOZ ............................................................................................................. 65
AMANHÃ ..................................................................................................... 66


ÁRVORES ................................................................................................... 67
MINHA MÃE ................................................................................................ 68
PROGRESSO ............................................................................................. 69
MARIA ......................................................................................................... 70
ÁFRICA ....................................................................................................... 71
DESEJO ...................................................................................................... 72
SOUL ........................................................................................................... 73
TESSITURA ................................................................................................ 74
O VERBO .................................................................................................... 75
SENTIMENTO DO TEMPO ......................................................................... 76
SENTIMENTO ............................................................................................. 77
O TAL .......................................................................................................... 78
RISCO .......................................................................................................... 79
O ÍNDIO ....................................................................................................... 80
O VÔO ......................................................................................................... 81
A SERPENTE .............................................................................................. 82
OS SENTIDOS DA ÁGUA ........................................................................... 83
AS RUAS ..................................................................................................... 84
BUSCA ......................................................................................................... 85
OS MENINOS .............................................................................................. 86
ANJO TORTO .............................................................................................. 87
PALMO DE TERRA ..................................................................................... 88
PORTE DE FÉ ............................................................................................. 89
NÃO SEI ....................................................................................................... 90
AMOR ........................................................................................................... 91
PONTO DE VISTA ........................................................................................ 92
ESPERA ....................................................................................................... 93
SALTO NO ESCURO ................................................................................... 94
ELE ............................................................................................................... 95
SONS E FALAS ............................................................................................ 96
O ATOR ........................................................................................................ 97
PAPEL .......................................................................................................... 98
UM OUTRO TEMPO .................................................................................... 99
HORAS ........................................................................................................ 100


A TRANSIÇÃO DA VOZ .............................................................................. 101
CANSAÇO ................................................................................................... 102
MINHA AMADA ........................................................................................... 103
TEOREMA ................................................................................................... 104
NO MAIS, PALAVRAS ................................................................................ 105
A VELHA ESPERA ..................................................................................... 106
O AÇOITE .................................................................................................. 107
O SERTÃO ................................................................................................. 108
CONHEÇO ................................................................................................. 109
PLUMAS ..................................................................................................... 110
BRILHO ...................................................................................................... 111
TAMBATAJÁ .............................................................................................. 112

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